DIALOG ALICANTE BOUSCHET 2011



     Hoje vamos até à vila de Estombar no concelho de Lagoa. Algarve. Durante muitos anos vivemos com a ideia de que a região do Algarve não poderia ser terra para se criarem bons vinhos. Com verões longos e secos e invernos curtos e amenos, sempre se idealizou que por ali muito se poderia cultivar, mas uva não seria o mais indicado. Vinho já existia há muito tempo, sobretudo nesta zona de Lagoa. Vinho correcto, sem ser distinto, apreciado sobretudo pela própria população residente da região e na hotelaria. Com a chegada do novo século apareceram alguns produtores que vieram, pela irreverência, visão e aptidão profissional, revolucionar a cultura do vinho. E provaram que era possível conceber vinhos de excelente qualidade, com personalidade, bons para a mesa, jovens e frutados e outros até mais complexos e com crescente capacidade de amadurecimento em garrafa. A meu ver, tudo se limitou a dois aspectos fundamentais: com o estudo e conhecimento das castas cada vez mais profundo e exacto, puderam-se apurar as castas mais indicadas para a região. Por outro lado, o desenvolvimento das técnicas de viticultura e enologia aliado a um excelente trabalho dos técnicos que as exercem foi determinante para fazer da região o que ela é e representa actualmente.
     A Quinta dos Vales é um desses exemplos. A enologia está entregue a uma enóloga residente, Marta Rosa, e conta ainda com o apoio de Dorina Lindemann e de Paulo Laureano. Juntos vinificam a partir de 15 castas seleccionadas, entre tintas e brancas, nacionais e estrangeiras. Os vinhos da Quinta dos Vales dividem-se em duas marcas: a Marquês dos Vales desde 2008 e a Dialog desde 2014. Depreende-se que têm um passado muito curto, mas apostando desde sempre no valor da qualidade em detrimento da quantidade conseguiram num curto espaço de tempo tornar-se num dos principais produtores vinícolas algarvios.
     O Dialog Alicante Bouschet 2011 é um vinho, em termos gerais, muito bem concebido e um reflexo de um excelente labor técnico. A casta contribui imenso também para o sucesso deste vinho. Mal amada no pais de origem (França) e adorada na região sul de Portugal, esta casta tintureira é na verdade uma casta com enorme capacidade de adaptação à região algarvia. Conhecida por acrescentar volume, estrutura e concentração aos vinhos, a Alicante Bouschet acarreta igualmente uma enorme capacidade de envelhecimento. Dá-se bem em climas quentes, precisa de muitas horas de sol para amadurecer correctamente o que o faz tardiamente. Além disso, suporta períodos de seca. 
     Passando à prova em si, o vinho apresenta-se com uma bonita cor rubi profunda, não tão carregada como é habitual nos vinhos desta casta, talvez pelos anos que já tem em garrafa. No nariz sentem-se as habituais notas da casta, fruto silvestre, azeitona, caixa de tabaco, o vegetal também está presente mas bem incorporado no conjunto. Surpreende pelo paladar, robusto, algum tanino ainda por polir, já com algum couro. Ainda a evoluir. E é do Algarve...
(Nota 16,5) 14º álcool

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