ADEGA DE PENALVA BAGA 2017


     A aventura das adegas cooperativas começou já há quase 70 anos e surgiu como uma forma de possibilitar a pequenos e micro viticultores concretizar o objectivo de dar uma finalidade à uva (vinifera) colhida, que é como quem diz fazer vinho. Desde então, o número de adegas foi crescendo até finais dos anos noventa. Com a entrada no novo século e até ao momento, o número de adegas passou de 125 a 90. Será esse facto um ponto a desfavor da imagem das adegas cooperativas? Nada disso. Baixou a quantidade aumentou a qualidade. As adegas, ao longo dos últimos anos, tiveram de evoluir sob risco de não se justificarem financeiramente. Sendo assim, deixaram de focar a sua produção no vinho a granel e criaram marcas próprias, contrataram enólogos de renome para desenharem um bom perfil para os seus vinhos, apetrecharam-se tecnologicamente, controlaram a qualidade da uva recebida dos seus associados, valorizaram o mercado externo. São cooperativas mas funcionam como produtores particulares no que à qualidade diz respeito.
     A Adega Coop, de Penalva do Castelo foi estabelecida em 1960, embora tenha recebido as primeiras uvas apenas em 1967. No inicio contava com 43 associados. Actualmente são cerca de...1000! Espanto? A titulo de exemplo, a Adega Coop. de Santa Marta de Penaguião (actuais Caves de Santa Marta que ficam para a história do Douro por terem produzido o primeiro Porto Vintage -1998- de uma cooperativa) fundada em 1959, começou com 96 associados e depois de se unir às adegas de Medrões e da Cumieira chegou a ter  2100, logo no inicio do novo século.
     Do conjunto de vinhos que já provei da Adega de Penalva concluo que conseguem transmitir a essência da região Dão, ou seja, vinhos frescos, com estrutura, complexidade e corpo, sem esquecer a elegância. Vinhos de qualidade para serem bebidos enquanto novos e outros que, por certo, vão envelhecer nobremente. Resolvi focar-me neste Baga de 2017 pela bela prova que me proporcionou.
     Esta casta é naturalmente associada à Bairrada, mas no Dão encontra igualmente boas condições naturais para se desenvolver em perfeição. Conhecida por ser uma casta dificil, de maturação tardia, susceptivel à podridão (pela concentração dos seus bagos) e de elevado vigor, capaz de produzir excelentes vinhos em anos secos e de parcelas com boa exposição solar, este Baga demonstrou ser um desses casos. Começou por me encantar a sua cor rubi profunda, límpida. No nariz é a exuberância do fruto silvestre concentrado e da ameixa preta que me encanta. Boca surpreendente pelo tanino firme e acidez vigorosa mas equilibrada, notas de torrefação, ligeiro balsâmico, fim de boca denso e persistente.
     Uma casta que dá trabalho pela necessidade de contínuo acompanhamento. Mas um bom empenho leva ao sucesso. E se ouvimos por vezes dizer que a Baga, ou se ama ou se odeia, resta-me dizer obrigado à Penalva, porque esta eu amei.
(nota 17)

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